Academia de Pilotos da Red Bull | O segredo por trás do sucesso de Marko

A ideia de Dietrich Mateschitz

Nem mesmo a própria equipe sabe qual foi o exato momento em que tudo começou. Uma coisa é certa: Dietrich Mateschitz é essencial em toda essa história. O proprietário da Red Bull queria entrar na F1, mas à sua maneira. Assim como o estilo único da própria equipe, os pilotos também tinham que ser especiais. Alguns anos antes de a Red Bull comprar a equipe da Jaguar, a marca já estava em busca de talentos jovens e promissores.

Na Red Bull, havia um homem com experiência em automobilismo e, por isso, ele foi designado por Mateschitz como o responsável que deveria procurar jovens estrelas: Helmut Marko. "O Sr. Mateschitz era um grande fã de corridas de automóveis. Ele também sabia como é caro para um piloto entrar no esporte. Então, ele teve a ideia de apoiar jovens pilotos, para que eles pudessem entrar no automobilismo", disse Marko ao GPblog.

Uma coisa levou a outra. Depois de apoiar vários pilotos financeira e esportivamente, a Red Bull comprou a equipe de F1 da Jaguar em 2005 e, um ano depois, comprou também uma segunda equipe com o nome de Toro Rosso (agora AlphaTauri). Ter essas equipes só facilitou ainda mais o treinamento dos pilotos. Antes de terem as duas equipes na categoria, a marca ainda precisava ganhar dinheiro, mas depois disso, tornou-se um puro investimento.

"No início, não havia problema em apoiar jovens pilotos. É como um patrocínio. Se você patrocina, quer algo em troca. Quando tivemos as duas equipes de Fórmula 1, a abordagem mudou completamente. Agora era só apoiar para encontrar um piloto que estivesse em condições de vencer pelo menos um Grande Prêmio. Um campeonato é uma história diferente", acrescentou.

O que é um jovem talento da F1?

O plano da Red Bull não era comprar grandes nomes, mas treinar suas próprias estrelas. Uma tarefa difícil, pois como você encontra uma jovem promessa, e o que é exatamente uma jovem promessa? Marko, que, como o único especialista em automobilismo da Red Bull, foi encarregado de rastrear esses talentos, começa com o básico: velocidade.

"Você precisa ter velocidade. Essa é a primeira e mais importante coisa [quando você está procurando]. Depois disso, é o que você está fazendo com seu talento. Você está realmente comprometido? Você está preparado para trabalhar duro?". Todos esses fatores são levados em conta por Marko. Embora isso não seja tudo, pois nem todo talento chega ao topo. Marko cita Oliver Oakes como um exemplo. O britânico ganhou tudo no kart, mas não teve um desempenho suficientemente bom nos carros de fórmula. Agora, Oakes é o chefe da equipe HitechGP e trabalha novamente com a Red Bull. Na verdade, muitos talentos pilotam para a equipe do britânico.

Nesse aspecto, é realmente uma pirâmide: o piloto começa no kart e precisa se desenvolver cada vez mais na escada do automobilismo. Em cada degrau, o talento precisa provar seu valor novamente.

De acordo com Marko, um grande exemplo de dedicação é Sebastian Vettel. "Vettel venceu 18 corridas [de 20] na Fórmula BMW naquela época. Ele estava infeliz por não ter vencido 20 corridas. Portanto, se você tem esse tipo de abordagem, sabe que ele é a pessoa certa. E esse também é o caso de Verstappen, que é totalmente dedicado à F1. Se ele não está correndo na Fórmula 1, está correndo em simuladores. Eles vão até o limite absoluto. E você tem que se preparar mentalmente. Isso é algo que nem todos os pilotos conseguem fazer".

Nos casos de Vettel e Verstappen, talvez já fosse evidente para muitos que eles eram grandes promessas para o futuro, mas às vezes também é preciso um pouco mais de tempo e atenção. Marko, que assiste a todas as corridas das categorias de acesso, tem experiência suficiente para identificar as joias que outros não perceberam.

Academia de pilotos da Red Bull

"Nós olhamos para o kart. Antigamente, era a Fórmula 3, agora é a Fórmula 4. Analisamos os pilotos e, é claro, ele precisa ter velocidade, mas precisa se mover na categoria. Em seguida, eu converso, normalmente em 20 minutos, e forneço parte do orçamento. Escolhemos a equipe e agora também temos um simulador em Milton Keynes, onde Rocky (Guillaume Rocquelin) analisa as áreas analíticas e técnicas."

Rocky, o antigo engenheiro de corrida de Vettel, agora trabalha como líder da Academia de Pilotos. Na fábrica, ele supervisiona os talentos dentro do programa de treinamento da Red Bull. Uma verdadeira escola para pilotos, sobre a qual o GPblog conversou longamente com o engenheiro francês. Essa história aparecerá mais tarde como uma exclusiva no site.

Marko e a Red Bull são frequentemente acusados de serem bastante rígidos. O rebaixamento de Daniil Kvyat e a estreia repentina de Max Verstappen, em particular, foram muito criticados pelos comentaristas na época, mas o tempo mostrou que a Red Bull estava certa. Além disso, é possível perceber também que a fama de 'rígidos' não é totalmente justificada. De longe, a Red Bull apoia o maior número de jovens em seu caminho para o topo, e aqueles que não terminam na F1 podem ganhar a vida no automobilismo em outra categoria. Veja, por exemplo, Jean-Eric Vergne (Fórmula E), Antonio Felix da Costa (Fórmula E), Oliver Oakes, Tom Blomqvist (Fórmula Indy) e Patricio O'Ward (Fórmula Indy). A lista é interminável.

"As pessoas olhavam para os pilotos, que eu não demitia, apenas não os apoiávamos mais. Ou nós os tiramos da Fórmula 1 porque eles não eram rápidos o suficiente. Eles são pilotos pagos em várias categorias: DTM, GT e Fórmula E. E estão ganhando dinheiro por uma paixão."

A esse respeito, a mensagem da Red Bull é muito clara: precisamos vencer. Quer você fale com Marko, Rocquelin ou com os atuais talentos da Red Bull, Ayumu Iwasa e Liam Lawson, vencer é fundamental para a equipe austríaca. Um objetivo grandioso, mas apenas lógico se você quiser chegar à F1. Há apenas 20 vagas na categoria mais alta do automobilismo, portanto, só há espaço para os melhores. Se você não vencer nas categorias de acesso, certamente não vencerá na F1.

"Nós apenas selecionamos a equipe para eles. Dizemos a eles o que esperamos, que é vencer. Mas, é claro, há uma variação no desempenho da equipe. Damos a eles a possibilidade de estar no simulador". No simulador, Rocquelin e sua equipe podem criar um programa para um piloto, concentrando-se no que ele precisa.

"Fazemos uma checagem com um preparador físico. Nós supervisionamos seu desenvolvimento. Por exemplo, Ayumu Iwasa. Ele não tem força, seus braços são muito fracos. Então, onde está o ponto fraco deles, temos de mandá-lo para Londres. E no simulador, é Rocky quem diz a eles onde estão seus pontos fracos, como trabalhar de forma mais profissional."

O que os pilotos falam sobre Marko?

Falando com os jovens talentos do programa de treinamento da Red Bull, também fica claro o quanto Marko continua envolvido em todo esse projeto. "Acho que um dos maiores benefícios da Red Bull é o fato de termos contato direto com o Dr. Marko. Para mim, foi basicamente o Dr. Marko quem me ligou diretamente. Ele ligou para o meu empresário primeiro, e nós assinamos o contrato e coisas do gênero. Mas eu tive contato direto com o Dr. Marko logo de cara e ainda tenho, basicamente, ao longo dos anos", disse Liam Lawson.

"A meta da Red Bull é sempre a mesma, que é vencer", disse o neozelandês, em sintonia com as palavras de Marko e Rocky. "Você sabe disso a cada temporada, e é o que se espera. Como piloto de corrida, esse também é o nosso objetivo, ir para qualquer temporada e tentar vencer. Então, esse é o meu objetivo para o ano".

Para Ayumu Iwasa, não é diferente no campeonato de Fórmula 2. "Não é necessariamente um objetivo, mas o que eles esperam de mim é que eu precise vencer a corrida à minha frente. Preciso me concentrar no meu trabalho e depois dar o meu melhor na pista", disse Iwasa. Lawson e Iwasa estão trabalhando duro para atingir esse objetivo. Lawson é o primeiro colocado no campeonato japonês de Super Formula, e Iwasa é o terceiro no campeonato de F2.

Com a classificação se tornando cada vez mais importante em todas as categorias, os talentos também são submetidos à chamada "Helmut Lap". Os pilotos são colocados no simulador para dar uma volta. A pressão é imensa, e essa pressão deve garantir que os jovens talentos melhorem e estejam prontos para a realidade da F1.

Não importa quantos dados possam ser coletados atualmente, o que conta para Marko ainda é o que ele mesmo vê na pista. "Estou assistindo a todas as corridas, então vemos isso automaticamente", concluiu o austríaco. Isso fica evidente no fim de semana do GP da Espanha, quando o espanhol Pepe Marti fez a pole e a converteu em vitória na F3. O piloto de 17 anos corre pela Campos e ainda não está vinculado a uma equipe de F1, mas estava sentado à mesa de Marko no final do fim de semana. Ainda não se sabe se ele será uma nova adição à equipe da Red Bull ou se foi apenas uma conversa casual.

Marko ainda parece ser essencial para a Red Bull na busca de novos e jovens talentos. Ele assiste a todas as corridas, se aproxima dos pilotos, conversa com eles sobre seu desenvolvimento e se atreve a dar-lhes chances na F1. Rocquelin, em segundo plano, tem se tornado cada vez mais importante na orientação e no desenvolvimento dos pilotos. Você lerá o que isso significa no site do GPblog mais tarde.