Os bastidores do Programa de Pilotos da Red Bull: "É como uma escola"

Jovens talentos da Red Bull

Mesmo antes de a Red Bull começar na F1 com suas próprias equipes, Marko já estava na procura de jovens talentos. Dietrich Mateschitz queria ajudar jovens pilotos a chegar ao topo do automobilismo, e coube a Marko encontrá-los. Foi só depois de a empresa já estar apoiando alguns talentos no automobilismo que então ela conseguiu entrar na categoria com a sua própria equipe, a Red Bull Racing, e, um ano depois, com a Toro Rosso (agora AlphaTauri).

Com suas próprias equipes, a Red Bull podia agora se concentrar inteiramente em ajudar os jovens pilotos. Não seria mais o dinheiro que atrairia esses jovens, mas sim as equipes de F1, tornando-se assim um programa de desenvolvimento. Mas como você garante que um jovem eventualmente atinja seu potencial e maximize suas chances? Na Red Bull, eles estão encontrando cada vez mais uma resposta para essa pergunta.

Leia a extensa entrevista com Helmut Marko sobre a Red Bull Junior Team aqui!

É claro que grandes talentos como Sebastian Vettel e Max Verstappen chamam a atenção da maioria e também precisaram de pouca orientação em seu caminho para o topo. No entanto, se você observar o grid da F1 de 2022, é impressionante que 8 dos 20 pilotos tenham algum histórico com a Red Bull, seja no passado ou no presente. Isso não pode ser uma coincidência. Portanto, uma combinação de um bom olheiro (Marko), mas também de um bom treinador.

A orientação de hoje está a cargo de Guillaume Rocquelin, mais conhecido por muitos como "Rocky". Rocky ficou famoso entre 2009 e 2014 como engenheiro de corrida de Sebastian Vettel. Com o alemão, Rocquelin conquistou quatro títulos mundiais. Como chefe de engenharia de corrida, ele também trabalhou com Max Verstappen e Daniel Ricciardo, entre outros, antes de assumir o cargo de chefe da Academia de Pilotos em 2022.

O braço direito de Marko

"Eu queria diminuir um pouco o número de viagens na F1. Quando você faz tantas corridas, você vai de uma corrida para a outra, e há muito pouco tempo para o desenvolvimento. Você não pode simplesmente sentar e analisar o que vai fazer. Como engenheiro, eu queria algo um pouco mais gratificante. Na época da minha carreira, senti que estava começando a me interessar por ensinar, em poder transmitir um pouco da minha experiência e tentar analisar o que fiz para passar isso para outras pessoas", disse Rocquelin em conversa com o GPblog.

Portanto, ele não tem mais um papel dentro da equipe de F1 diretamente, mas um papel essencial dentro do programa de pilotos da Red Bull. "Acho que sou o diretor da escola (risos). Temos muitos recursos aqui no Campus de Tecnologia em Milton Keynes. Há várias pessoas trabalhando no departamento, algumas delas são mais especializadas no simulador e outras serão mais especializadas na análise dos resultados", acrescenta.

Junto com esses especialistas, Rocquelin analisa os talentos dentro do programa da Red Bull. Quais pilotos estão tendo um bom desempenho e quais estão ficando abaixo do esperado? Com base nessas análises, são realizadas entrevistas com os pilotos, são elaborados cronogramas de desenvolvimento e, às vezes, os pilotos de F1 se sentam para compartilhar suas experiências com os jovens talentos.

É como uma escola

Como o próprio Rocquelin diz: ele é uma espécie de diretor. Nesse aspecto, o programa da Red Bull também acaba sendo muito mais parecido com uma escola do que simplesmente uma forma de encontrar os melhores talentos. Uma escola que prepara você para uma coisa que é muito importante para a Red Bull: vencer.

"O objetivo principal é produzir vencedores de corridas de F1 e nos fornecer pilotos que possam se juntar à equipe principal, a equipe Red Bull. Não se trata apenas de um programa de patrocínio. É um programa de desenvolvimento de pilotos."

Eles seguem um programa de desenvolvimento para preparar esses jovens talentos para vencer na F1. Os talentos são observados por Marko e depois entram no programa de desenvolvimento de Rocquelin. Diferentes referências são usadas para ver em que o piloto precisa trabalhar, por exemplo: força, nutrição ou trabalho no simulador. A verdadeira lição de casa segue para os talentos que precisam ser trabalhados.

"Quando você pensa em academia, não se trata apenas do seu treinamento. Na verdade, é uma escola em alguns aspectos, e nossos pilotos recebem lição de casa. Eles são avaliados por esse dever de casa. Podemos ter uma boa ideia de quem realmente sabe sobre a história do esporte, os aspectos técnicos, a configuração, a nutrição, todas essas coisas. Há uma grande variedade de tópicos que são importantes para que você se torne um atleta completo."

"Quando os colocamos no simulador, há várias métricas que podemos medir, não apenas o tempo da volta, mas também a reação, a compreensão das configurações, as novas sensibilidades que mudam a cada volta e, novamente, podemos avaliar esses pilotos."

Para mapear ainda melhor em que um piloto é bom ou sabe muito sobre o assunto, são feitos até mesmo testes. "Às vezes, o dever de casa da escola é uma redação que eles têm que escrever. Então, são feitas dez perguntas e eles têm que mostrar seu conhecimento sobre esses tópicos. Em seguida, preenchemos as lacunas que eles não conhecem. Assim, suponhamos que eles saibam 20% de algo que achamos que deveriam saber, então explicamos como eles vão compensar a diferença".

"Alguns dos tópicos são coisas que eles deveriam saber de qualquer forma, já que são pilotos de corrida há vários anos. Eles deveriam ter aprendido todas essas coisas trabalhando com seus engenheiros ou com outras pessoas. Tentamos descobrir onde eles estão em termos de conhecimento sobre isso. E quando sabemos, é aí que a parte educacional entra em ação, quando preenchemos as lacunas. Eu entendo [a maioria] das respostas. Ou simplesmente perguntamos a outras pessoas da empresa, sejam fisioterapeutas, estrategistas ou outros especialistas. Eu posso passar o conhecimento adiante."

Como os futuros campeões se distinguem?

Rocquelin argumenta que a maneira como os jovens talentos aprendem determina, em grande parte, o quão bons eles realmente são. A velocidade de um piloto é fácil de ser medida na pista, mas para ser capaz de fazer isso novamente em cada categoria acima, você precisa continuar se adaptando e melhorando. O piloto precisa ser capaz de dar esse passo à frente todas as vezes e vencer em todos os níveis. Nem todos possuem essa capacidade.

"O que vai levá-los ao próximo nível é muito mais a atitude deles. Podemos realmente ver isso fora da pista de corrida em todas as interações que temos com eles em termos de estar no simulador quando estamos fazendo sessões de treinamento. Você pode identificar essa motivação", diz Rocky. De acordo com o francês, os talentos podem fazer a diferença principalmente fazendo perguntas e aprendendo com as derrotas. "Essas são as coisas que os levarão ao topo".

O objetivo do programa é formar vencedores na F1. Eles já tiveram sucesso com Vettel, Verstappen, Carlos Sainz, Pierre Gasly e Daniel Ricciardo. Portanto, o desenvolvimento é medido para saber se os talentos estão se desenvolvendo em direção ao nível desejado. Com base em todas as lições de casa, resultados e conquistas, Rocky e sua equipe podem ver se um talento está fazendo o progresso certo.

"O que mais me satisfaz é garantir que esses rapazes realizem seu potencial. Você tem que dar a eles metas, dizendo: 'ok, essas são as coisas que você precisa desenvolver'. E isso faz parte dos critérios para que eles possam continuar no programa. Avaliamos isso no final da temporada. Mas, da mesma forma, é muito importante que a academia seja um lugar seguro, para que eles sintam que aqui podem cometer erros, pois é assim que você aprenderá e progredirá no futuro. Portanto, é uma linha tênue."

Com tanta experiência na F1, o próprio Rocky naturalmente desempenha um papel importante na orientação de talentos. Por isso, quando perguntado qual é a lição mais importante que ele ensina aos jovens, ele dá uma resposta interessante.

"Acho que eles precisam estar no controle. Eles têm que conduzir o processo. Não podem ser passageiros. Eles precisam querer isso para si mesmos. Eles precisam lidar com as pressões externas. Não podem deixar que isso os afete. O mesmo acontece com a rede social. Eles precisam controlar seus temperamentos, suas comunicações e tudo mais. Essa é a principal coisa que eles precisam ter. Caso contrário, se eles forem passageiros e estiverem apenas tentando lidar com a situação, não conseguirão", conclui Rocky.

Na entrevista exclusiva ao GPblog, Guillaume Rocquelin também falou sobre a cultura da Red Bull, o exemplo dado pelos pilotos de F1 da equipe austríaca e da AlphaTauri aos seus jovens talentos e as características de grandes campeões como Vettel e Verstappen. Em breve você poderá ler a entrevista completa em nosso site.