Enzo Fittipaldi: "Fórmula 1 é sonho máximo"

Interview

7 de setembro de 2022 no 17:40
Última atualização 6 de junho de 2023 no 10:19
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Atual sexto colocado no campeonato mundial da Fórmula 2, Enzo Fittipaldi tem sido um dos destaques da categoria este ano. Correndo pela equipe Charouz Racing System, o brasileiro vem conseguindo bons resultados, já subindo ao pódio cinco vezes nesta temporada.

Durante as férias de verão, antes do Grande Prêmio da Bélgica, o GPblog fez uma entrevista com o piloto brasileiro da F2, Enzo Fittipaldi. Em conversa com os nossos editores da edição brasileira, Marcos Gil e Vicente Soella, Enzo falou um pouco sobre a sua carreira, seu canal no YouTube, a estreia da Fórmula 4 no Brasil, e também um pouco sobre as suas expectativas para o futuro.

Enzo Fittipaldi com exclusividade 

(GPBLOG) Enzo, você é carinhosamente conhecido entre os brasileiros como “tubarãozinho”. De onde veio esse apelido, e quando surgiu?

(Enzo) É até curioso isso porque eu acho que surgiu na Twitch, onde atualmente temos o canal Fittipaldi Brothers, percebi que era algo carinhoso vindo dos fãs, então acabei adotando e a própria Charouz e a Fórmula 2 incentivam o apelido “shark” nas redes sociais.

(GPBLOG) Sabemos que você e o seu irmão têm uma relação muito forte. Inclusive, possuem até um canal juntos no YouTube. Gostaríamos de saber se vocês costumam conversar bastante antes de cada corrida, se ele te dá algum conselho, ou se você prefere ficar mais na sua, se concentrando sozinho?

(Enzo) Eu e o Pietro falamos de corrida basicamente 24 horas por dia. Eu e ele respiramos isso o tempo todo, então é super normal um acabar incentivando e passando dicas para o outro. Eu me inspiro muito nele, na maneira profissional com que ele trabalha e em como tem uma grande capacidade de se adaptar com qualquer tipo de carro.

(GPBLOG) Na última corrida, na Hungria, você conseguiu dois resultados impressionantes. Na corrida de sábado você chegou na 3ª posição, e na corrida principal de domingo você conquistou um resultado ainda melhor, chegando na 2ª posição. Foi o único piloto que subiu no pódio nas duas corridas neste último Grande Prêmio. Sabemos que a próxima etapa do campeonato é na Bélgica e muitos pilotos ao longo da história já declararam que Spa sempre foi o seu circuito favorito do calendário, e com certeza uma das pistas mais icônicas do automobilismo. Você também sente que Spa tem uma magia diferente? Quais são as suas expectativas para a próxima corrida?

(Enzo) Spa é realmente uma pista fantástica, o traçado é muito desafiador e é uma pista em que praticamente todos os pilotos sonham pilotar um dia. Minha primeira vez nela foi na Fórmula 3 em 2020, então eu nunca corri pela Charouz nessa pista e nem com o carro da Fórmula 2, que traz uma sensação maior de velocidade. A expectativa é a melhor possível, de tentar buscar um top-10 no grid e quem sabe brigar pelas primeiras posições na corrida 1.

(GPBLOG) Entre todos os circuitos que você vai correr nesta temporada da F2, há algum que você sinta que seja o seu favorito, ou aquele que você se sente mais à vontade? Não ter um fim de semana em Interlagos faz muita falta para você?

(Enzo) A Fórmula 2 corre em vários circuitos que eu gosto muito, como Hungaroring, Monza e Spa. Um que eu gostava muito de correr também na época de F3 era Mugello. Tenho um carinho pelas pistas italianas, até pela formação que tive lá na época da F4 Italiana também. Interlagos é uma pista em que estive algumas vezes, mas ainda tenho o sonho de pilotar em uma prova oficial. Por enquanto tive a chance de disputar somente corridas virtuais lá e ganhei lá com a prova da F1 Virtual em 2021 com a Haas.

(GPBLOG) Infelizmente, no ano passado, durante o Grande Prêmio da Arábia Saudita, você se envolveu em um terrível acidente com Theo Pourchaire logo na largada. Depois de alguns momentos de tensão enquanto todos aguardavam notícias sobre o seu estado de saúde, foi divulgado que você havia fraturado o calcanhar direito e que também havia sofrido alguns ferimentos mais leves no rosto. Na época, chegou a ser divulgado que o impacto da batida havia sido de 72G, algo assustador. Eu queria saber, o que passou na sua cabeça durante aqueles dias, e o que mudou na sua mentalidade após o acontecimento? Até hoje você carrega algum “medo” por causa do ocorrido ou acha que realmente faz parte do esporte e não pode ficar muito preso nessas situações?

(Enzo) Foi um período longo de recuperação para mim, mas que contei com muito apoio dos meus pais e dos meus irmãos. Acabou que foi tudo muito rápido naquele GP, mas a lembrança é ter sido muito bem tratado pela equipe médica tanto no circuito quanto no hospital lá na Arábia Saudita. Meu irmão estava trabalhando lá com a Haas, então me deu bastante suporte. Como aquela foi minha última corrida em 2021, eu tive tempo para virar a página e começar 2022 focado apenas em fazer o meu melhor. Não passou pela minha cabeça algo de medo e foi bom que começamos 2022 conquistando bons resultados e isso foi trazendo ainda mais confiança pra mim.

(GPBLOG) Mesmo com a Charouz, que é uma equipe que historicamente não dá tantas oportunidades de vitória aos seus pilotos, você vem conseguindo conquistar resultados consistentes e é, atualmente, o quarto colocado na F2, somente 19 pontos atrás de Logan Sargeant, que é um dos pilotos da F2 mais cotados no momento para assumir uma vaga na F1 no próximo ano. Com esse desempenho, alguma equipe da F1 já entrou em contato com você? Há conversas sobre a possibilidade de guiar por alguma equipe em um Treino Livre ainda este ano?

(Enzo) Nunca neguei que meu grande sonho é chegar na Fórmula 1, mas acredito que tudo tem sua hora certa para acontecer. Às vezes não parece, mas 2022 é minha primeira temporada completa na F2, então meu foco principal está aqui na Charouz e em terminar o ano da melhor maneira possível. É claro que, conforme vai chegando o final da temporada, as conversas vão se intensificando, mas quero primeiro focar nas últimas corridas para depois pensar em 2023.

(GPBLOG) Você fez parte da Academia da Ferrari durante 4 anos, mas hoje você não está mais ligado à um programa de nenhuma equipe. Você acha que fazer parte de uma Academia pode ajudar a encurtar o caminho até a Fórmula 1 ou acha que acaba fechando outras portas e limitando as oportunidades, já que o piloto fica “preso” à somente uma equipe e dependendo somente dela para chegar até a categoria principal?

(Enzo) Ter feito parte da Academia de Pilotos da Ferrari foi uma grande honra para mim e até hoje sou muito bem recebido lá em Maranello. Tenho muitos amigos por lá e foi realmente a base da minha carreira nos fórmulas. Ter sido campeão da F4 e vice da FRECA foram de grande importância para o meu crescimento profissional. Temos grandes pilotos ligados atualmente com as academias, mas isso não impede que outros competidores cheguem na Fórmula 1. Eu ainda acredito que se o piloto for talentoso e estiver em uma equipe que tenha capacidade de entregar um carro competitivo, ele pode muito bem ser notado por um time de F1.

(GPBLOG) Já que entramos no assunto das academias de pilotos, nos conte um pouco mais sobre o suporte que esses programas oferecem aos seus membros. Como é o dia a dia, a integração com a equipe, se há algum suporte financeiro para competir...

(Enzo) O suporte da Ferrari Driver Academy, onde estive por alguns anos, era bem bacana porque tínhamos testes físicos, mentais, conhecíamos o trabalho na fábrica, fazíamos viagens e já estávamos inseridos em um forte ambiente de competição. A parte financeira varia de acordo com cada projeto e também da condição do piloto de ajudar a trazer patrocínios para o time.

(GPBLOG) Nós temos muitos pilotos brasileiros que estão aparecendo no cenário do automobilismo nos últimos anos e todos eles possuem muito talento, como por exemplo o seu irmão, que é piloto reserva da Haas, você e Felipe Drugovich, que estão ambos fazendo uma grande temporada na F2, entre outros. Na sua opinião, o que falta para finalmente conseguirmos ter um piloto brasileiro ocupando uma vaga de forma integral em uma equipe na F1? É a falta de patrocínios? Está faltando mais apoio das empresas brasileiras?

(Enzo) Atualmente eu conto com apoiadores brasileiros, principalmente com o suporte que o Banco do Brasil, Claro e Baterias Moura me dão, além de outros parceiros importantes como Gate.io, Stake, Hyper X, Furia, PLGG, Snapdragon e Fantom. Acredito que faltam vagas mesmo na Fórmula 1, os pilotos que estão lá são muito bons e fazem trabalhos de qualidade dentro de suas equipes, mas esperamos ter notícias positivas em breve para o Brasil.

(GPBLOG) Ainda no tópico anterior, nos últimos anos alguns pilotos chegaram à F1 mais impulsionados por grandes patrocinadores do que necessariamente por um desempenho expressivo nas categorias de formação (os chamados “pilotos-pagantes”). Deixando de lado o debate sobre ser certo ou errado o critério financeiro estar acima do técnico, por que não vemos nenhum brasileiro com um suporte dessa magnitude? Por que as empresas brasileiras não apoiam os talentos nacionais como vemos empresas de outros países fazendo?

(Enzo) Como disse anteriormente, eu e o Pietro temos recebido o apoio de empresas brasileiras, mesmo sabendo da dificuldade de câmbio entre os valores em reais e em euros, como a F1 trabalha. Automobilismo é um esporte caro, então as dificuldades para pilotos e empresas apoiadoras são muitas. Os brasileiros também buscam patrocinadores de fora, é algo natural para tentarmos dar sequência em nossas carreiras.

(GPBLOG) Este ano estamos tendo a estreia da F4 brasileira, depois de muito tempo sem uma categoria de entrada nos monopostos para os jovens talentos do kart. O quão importante é termos essa categoria em solo brasileiro? E você acha que, a médio e longo prazo, é possível vermos mais categorias de formação aqui no Brasil e/ou América do Sul? (uma Fórmula Regional, por exemplo).

(Enzo) É realmente uma grande iniciativa que a CBA e a Vicar conseguiram para o Brasil. Os pilotos precisam desse apoio e essa é uma categoria escola que pode ajudar muito projeto de carreira dos pilotos. Eu aprendi muito na Fórmula 4, é um carro bacana de guiar e, pelo que tenho acompanhado das corridas, o campeonato começou muito bom. Quanto mais categorias nacionais tivermos no Brasil, seja de fórmula ou turismo, melhor para o nosso esporte.

(GPBLOG) Todo piloto sonha em chegar à Fórmula 1, mas sabemos que há poucas vagas e muitos precisam buscar o caminho profissional em outras categorias. Existe algum outro campeonato que atraia a sua atenção e que, mesmo que você chegue à F1, te desperte o interesse de fazer um teste ou até competir futuramente?

(Enzo) A Fórmula 1 é realmente o sonho máximo e para mim não poderia ser diferente. Eu trabalho muito focado com esse objetivo, mas é claro que devem aparecer outras grandes oportunidades ao longo da minha carreira. O Pietro sempre fala da IndyCar, de como é o trabalho dos americanos, então é um carro que eu também gostaria de correr um dia.