Por que o ceticismo em torno da temporada de Hamilton na Ferrari não está sendo bem compreendido
- Norberto Mujica
A próxima passagem deLewis Hamilton pela Ferrari foi recebida com muita resistência, com avisos sobre a empolgação em torno da próxima aventura do sete vezes campeão mundial na Scuderia, dada a sua idade, o calibre de seu companheiro de equipe, Charles Leclerc, e o desafio monumental que tem pela frente - devolver o título de pilotos de F1 a Maranello -, que são dúvidas legítimas em torno da mudança. No entanto, uma perspectiva diferente pode ser igualmente válida.
A idade de Hamilton, a velocidade e a recente melhora de seu novo companheiro de equipe, Leclerc, e o acirramento da luta no topo, com muitos pilotos mais jovens e rápidos ansiosos para deixar sua marca no esporte, sem mencionar Max Verstappen, o homem que especialistas e pilotos definiram como a referência na era atual da F1, são objeções que, sem dúvida, têm muito peso, certamente o suficiente para serem levantadas, e seu recente acidente em Barcelona durante o programa de testes TPC da Ferrari certamente não ajuda a combatê-las.
Acidente em Barcelona
Se fosse qualquer outro piloto, essas objeções poderiam até mesmo ser consideradas certas. Entretanto, esse não é o caso. Trata-se, de fato, do sete vezes campeão mundial Lewis Hamilton e, como tal, ele merece, no mínimo, o benefício da dúvida.
Embora seu acidente em Barcelona pareça levantar ainda mais suspeitas, ele deve servir como um lembrete de que está passando por um processo de aclimatação na Scuderia, explorando os limites do carro e de si mesmo nele, o que, segundo rumores, está indo muito bem.
É exatamente para isso que servem os testes, para resolver qualquer problema em potencial e determinar suas causas principais, na esperança de minimizar as possibilidades de que isso ocorra novamente no futuro.
Anúncio antecipado da saída de Hamilton da Mercedes
Por exemplo, basear-se em sua derrota para George Russell no ano passado para justificar os motivos pelos quais sua passagem pela Ferrari deve ser encarada com cautela, conta apenas um lado da história.
Um fato digno de nota é que Hamilton anunciou sua saída da Mercedes antes mesmo do início da temporada de 2024. Isso deve ter tido um impacto na dinâmica da equipe. Dinâmica que pode ter mudado mesmo antes disso, já que Hamilton só recebeu uma oferta de 1+1 na Mercedes, um sinal claro de que eles estavam esperando Andrea Kimi Antonelli, o que desencadeou o desejo do britânico de procurar outro lugar, sentindo que ainda tinha muito a oferecer na última fase de sua carreira na F1.
E é preciso observar que, quando um piloto anuncia que está deixando uma equipe, o foco da equipe muda para o piloto que está ficando, nesse caso, Russell, como deveria ser, lançando uma luz mais profunda sobre a queda de Hamilton para seu companheiro de equipe no ano passado, sim, mas também nas margens.
Hamilton ainda tem o que fazer
Mas apenas em 2023, não foi seu ex-companheiro de equipe Russell, não foi seu novo companheiro de equipe, Charles Leclerc, mas o piloto agora com 40 anos de idade lutando contra o domínio da Red Bull na classificação dos pilotos, com o britânico chegando muito perto de arrebatar o P2 de Perez nas últimas corridas do ano em máquinas decisivamente inferiores. Uma coisa é certa: sua velocidade e habilidade ainda estão presentes, como demonstraram suas vitórias em Silverstone e Spa-Francorchamps no ano passado.
É claro que ele ainda comete alguns erros, mas ele sempre foi esse tipo de piloto. Muito rápido, matador instintivo e, às vezes, exagera um pouco na busca pela última volta ou pela vitória, o que afetou sua volta de classificação em Las Vegas, onde, incidentalmente, tirou as rodas de sua Mercedes no dia seguinte para sair da P10 para a P2 e até mesmo ameaçar a posição do companheiro de equipe Russell, eventual vencedor da corrida em Nevada.
Um feito que ele completou, no entanto, no final da temporada de 2024 em Abu Dhabi, voltando da P16 para tomar a P4 de Russell nos estágios finais da corrida, afirmando sua habilidade e autoridade sobre seu companheiro de equipe muito mais jovem, que, apesar de ser elogiado como um futuro campeão mundial, ainda não deixou sua marca no esporte. Hamilton não perdeu a velocidade nem a garra.
Apesar das alegações de Toto Wolff de que Hamilton teve dificuldades com os atuais carros de efeito solo, é preciso observar o fato de que Hamilton e Russell estavam empatados durante todo o tempo em que estiveram juntos sob os regulamentos atuais, e o sete vezes campeão mundial foi bastante vocal em seu descontentamento com a abordagem da Mercedes aos regulamentos atuais, com o superaquecimento dos pneus traseiros sendo um problema que a equipe alemã ainda não resolveu desde a introdução dos regulamentos atuais em 2022.
Levando em conta o histórico de Max Verstappen, por exemplo, quando ele não estava satisfeito com seu carro da Red Bull, prestando atenção especial à Hungria, Monza e Baku, fica claro que, quando o carro não está lá, um piloto só pode atenuar os resultados ruins, não lutar por vitórias, que é a única coisa que Hamilton conseguiu fazer nos últimos três anos.
É Lewis Hamilton dirigindo para a Ferrari
Quantas vezes alguém poderá dizer, em sua vida, que viu um dos melhores pilotos da história pilotar para a marca mais icônica da F1? Não muitas. Esta é uma delas. O fato de ser tão analisado é estranho, afinal, quando Nigel Mansell, aos 36 anos, foi para a Ferrari, suas habilidades não foram questionadas em nenhum momento, e isso aconteceu em uma época em que a F1 era muito mais física, tornando o impacto da idade ainda mais profundo.
Nem mesmo a mudança de Alain Prostpara a Williams aos 38 anos, depois de ter sido demitido da Ferrari e forçado a ficar um ano inteiro de fora, foi colocada sob a lupa da mesma forma que Hamilton, um piloto que provou e demonstrou várias vezes que é capaz não apenas de acompanhar os melhores, mas também de superá-los, e que há alguns anos era a referência absoluta no esporte.
A cultura do automobilismo é uma celebração da velocidade, em que muitos observam os poucos corajosos que são capazes de fazer o que a maioria não consegue: ultrapassar os limites do mundo físico em um ambiente competitivo e de muita luta, viajando na velocidade mais alta possível, que o homem nunca deveria ter conhecido, a não ser pela engenhosidade de algumas das mentes mais brilhantes que este mundo já viu e alguns dos corações mais corajosos que este mundo ainda conhece.
Sendo assim, a contratação de Hamilton pela Ferrari deve ser recebida de braços abertos para comemorar o fato de podermos testemunhar algo que só acontece uma vez a cada 20 ou 30 anos. Será um sucesso esportivo? Uma coisa é certa: nem a Ferrari nem Hamilton jamais apostaram na derrota e, sob a liderança de Frederic Vasseur, a equipe italiana está adotando uma cultura vencedora, e a contratação do britânico é uma grande parte disso.
Sente-se e aproveite o show, pois valerá a pena assistir.
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